24 de março de 2012

Lixo mancha imagem da cidade da Conferência Rio+20


Reciclagem combate a poluição e é fonte de lucros na Europa

Em 1992, quando sediou a maior cúpula mundial sobre meio ambiente, o Rio inaugurou uma usina de triagem de lixo no Caju, com a perspectiva de implantar um programa de separação e reciclagem de resíduos. Duas décadas depois, o órgão tornou-se um símbolo da ineficiência da cidade na questão da destinação do seu lixo. Com tecnologia defasada, a usina revelou-se um gato vendido por lebre. Não chega a ser novidade, pois a falta de planejamento, e má execução, são traços comuns no poder público.

Os vinte anos entre a Rio 92 e a cúpula sobre desenvolvimento sustentável que, em junho, fará o balanço do legado do encontro do início dos anos 90 revelam um inquietante contencioso: a cidade-sede da Rio+20 vai para a nova rodada de discussões sobre o futuro ambiental do planeta sem ter feito o mais elementar dever de casa. O lixo aqui produzido ainda é um grande problema. Diferentemente de grandes cidades, principalmente europeias, nas quais a reciclagem faz parte de eficientes programas que reduzem a poluição e, inclusive, geram lucros, o Rio ainda enfrenta a questão com métodos e perspectivas anacrônicos.

O problema se mede em números impressionantes, como mostra a série de reportagens que o GLOBO publica. O Rio recicla apenas 3% do lixo que produz (252 toneladas das 8.403 geradas a cada dia). A Comlurb, empresa responsável pela coleta e destinação, tem ínfima participação — apenas 0,27% — nessa fatia, por si só exígua. A coleta seletiva é incipiente: dos 160 bairros da cidade, apenas 41 são cobertos, e mesmo assim de forma parcial, por esse sistema de recolhimento de detritos, essencial para a implantação de programas de reciclagem.

Na outra ponta do problema, onde o lixo é produzido, inexistem campanhas que estimulem a população a separar os detritos antes de vazá-lo. De maneira geral, a iniciativa privada também pouco se engaja. Mas, por outro lado, condomínios e companhias que procuram fazê-lo esbarram na falta de coleta seletiva mais abrangente. É um círculo vicioso e, pior, crescente, pois a cada ano que passa um volume maior de dejetos recolhidos reduz a margem de ação da prefeitura.Não é, no entanto, questão insolúvel. Capitais europeias recuperam, em média, 40% do seus resíduos. Há registros extremos de reciclagem, em Tóquio e Berlim, por exemplo, e de transformação do lixo em fonte de lucros. Empresas privadas alemãs, suecas e belgas faturam milhões com a reciclagem. A sueca Boliden AB teve em 2011 um volume de negócios de 4,5 bilhões de euros, enquanto a alemã Aurubis registrou uma movimentação de 13,3 bilhões.

Há soluções, mas o Rio parece ainda muito distante delas. É possível que, premido pelas exigências da Lei 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos e cobra ações concretas dos municípios até agosto em relação à destinação do lixo produzido, a prefeitura comece a buscar soluções e a enfrentar um problema que se avoluma. Na cidade da Rio+20 — e da Copa e das Olimpíadas — é hora de fazer o dever de casa.


Fonte: Jornal O Globo 

Nota: Talvez agora com o olhar do mundo em cima do Brasil, e principalmente na Cidade Maravilhosa, por conta da Copa e das Olimpíadas, os governantes tomem vergonha na cara e invista em ações para destinação adequada do lixo. O Brasil tem ficado marcado pela imagem de um país que deixa tudo pra última hora, não me admira que não queiram perder tempo com o que realmente importa. Costumo dizer que a gente erra uma vez para não errar duas. Vamos lá Rio, esta é sua segunda chance! por Renata Pio

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